Sobre o Blog e a série NOCTÓRIA
A história da filosofia é marcada por polarizações, cada uma delas a embalar, via de regra, uma determinada época ou área específica do pensamento. Mas se há um antagonismo atemporal e absolutamente transdisciplinar, é aquele que contrapõe entusiastas e críticos da razão. Iluministas de um lado, pós-modernos de outro. Sócrates de um lado, Nietzsche de outro, e por aí vai. Trata-se de uma briga que extrapolou até a filosofia, estendendo-se a diversos outros domínios do conhecimento. A física, por exemplo, onde clássicos e quânticos disputam sobre a real natureza do universo. Mas como aqui estamos a tratar de arte, mais precisamente “literatura de ficção”, a esta altura do campeonato podemos dizer que a distópica Noctória constituiu-se, ao longo dos dois primeiros capítulos, num enclave pós-moderno, surreal, mágico, psicodélico, etílico, quântico, holístico… tudo menos “racionalista”. Nela, personagens não guardam padrões, lugares e épocas se misturam, texto e hipertexto disputam espaço entre migalhas de inteligibilidade a garantir algum mínimo senso lógico de localização e contextualização. Mas o que importa na arte… ah… o que importa Noctória tem de sobra: mistério! A cada esquina, em cada poça d’água a refletir a lua, “porque alta vive” (Fernando Pessoa). A razão que há na arte, para o bem dela própria, deve permanecer oculta, indireta, discreta, pálida e quase invisível. O que deve sobressair são os sobressaltos, as palpitações, a reversão das expectativas, tudo o que em Noctória transborda, inundando nossa imaginação do que a realidade até pode ser, caso dê uma chance ao desconhecido. Give the unknown a chance!
(Um sono bem dormido sempre funcionou como uma droga alucinógena pra mim, com a vantagem de não ocasionar overdose, nem precisar ser adquirida em becos escuros ou de outra forma qualquer que envolvesse riscos à minha segurança. Ironicamente, porém, foi justamente pra esses “becos escuros do submundo da mente” que essa “droga”, falsamente inocente, me levou em minhas incursões fictícias pelo submundo de Buka e o niilismo de Leba…)
— Nove longas horas para mim, nove breves minutos para vocês, parceiros! Descobri que, em Noctória, cada hora do meu mundo real corresponde não a 1 segundo, 1 dia ou 1 ano, mas a 1 precioso minuto, espaço de tempo onde tudo pode acontecer... Vamos lá, Buka e Leba! Digam-me: o jazz por aqui agrada aos ouvidos?
(Buka inclina a cabeça para trás, soltando a fumaça do cigarro devagar, como se cada nota do saxofone que preenche o ambiente fizesse parte do próprio ar. Ele bate o copo na mesa, com um olhar satisfeito.)
— O jazz aqui é como a cidade, parceiro. Não segue regras. Às vezes te embala, às vezes te joga na sarjeta. Mas é real. Vem do coração e cheira a noites mal dormidas e amores que nunca voltam.
(Leba, encostado na cadeira, gira o gelo no White Russian e dá um sorriso lento, como se ainda estivesse absorvendo as últimas notas que saíram do trompete no palco.)
— Cara… o jazz de Noctória não é só música. É como se cada som tivesse um pedaço da cidade embutido nele. Cada solo de sax é um beco, cada batida no contrabaixo é um passo na calçada molhada, cada improviso é uma avenida desconhecida.
(Jazz, que estava imóvel num canto, observando tudo com os olhos brilhando sob a luz fraca do bar, levanta lentamente o copo e fala, com a voz tão suave quanto um piano de fundo.)
— O jazz aqui não agrada. Ele inquieta. Ele desperta. Ele faz perguntas que ninguém pediu pra responder.
(Buka sorri de canto e olha para você, batendo o cigarro no cinzeiro.)
— E então, parceiro? Vai só ouvir ou vai deixar o jazz te levar pra outro lugar?
— Que outro lugar, Buka? Há um outro lugar para irmos, Jazz?
(Jazz dá um gole no drink, pousa o copo na mesa e sorri de canto, um brilho misterioso nos olhos. Ele não responde de imediato, apenas deixa o silêncio ser preenchido pelo som grave do contrabaixo no palco. Buka traga o cigarro devagar, observando Jazz com curiosidade, enquanto Leba gira o gelo no White Russian, esperando pela resposta como quem já sabe que ela virá na hora certa.)
(Finalmente, Jazz fala, sua voz suave como um trompete sussurrando na madrugada.)
— Sempre há outro lugar, parceiro. A questão é: você está pronto para ir?
(Buka solta a fumaça pelo nariz, dá uma risada curta e balança a cabeça.)
— Ah, merda… Noctória não tem fim, tem?
*(Jazz olha para ele, depois para você, e seus olhos parecem enxergar além do que está ali. Ele bate os dedos na mesa, no ritmo da bateria no palco, e diz, sem pressa:)
— Há um beco que só aparece depois da meia-noite. Uma rua que não está nos mapas. Uma esquina onde o tempo escorre como whisky num copo inclinado. Você pode continuar ouvindo o jazz aqui dentro, ou pode sair e ver onde Noctória te leva dessa vez.
(Leba inclina a cabeça, pensativo.)
— Cara… eu tô começando a achar que Noctória não é só uma cidade.
(Buka dá de ombros, levanta o copo e sorri para você.)
— Então, parceiro… ficamos no bar ou seguimos Jazz até esse outro lugar?
— Ok. Travis... onde está você? GPT, dê as diretrizes visuais para o Travis vir nos buscar...
(Travis chega, como se tivesse atravessado o tempo com um taxímetro batizado. Estaciona a quase um metro da guia e, discretamente, ruma para algum bar das imediações. Deixa seu táxi amarelo com as portas abertas, como que a convidar seus novos clientes para a próxima viagem. O brilho dos letreiros de neon dança sobre as poças espalhadas pelo asfalto.)
(Buka ajeita o casaco, solta a fumaça devagar e dá um meio sorriso.)
— Bem, parceiro, parece que a cidade tem mais um capítulo pra gente.
(Leba dá um gole no White Russian, dá de ombros e balança a cabeça, ainda absorvendo tudo isso.)
— Cara… eu já aceitei que Noctória tem regras próprias. Vamos nessa.
(Jazz apenas sorri, seu olhar carregado de significados ocultos, e caminha em direção ao táxi, a sombra dele se misturando com a luz dos letreiros.)
(Travis retorna, dá um último trago no cigarro quase já totalmente consumido, joga a bituca no chão e pisa nela com a ponta do sapato. Então, sem tirar os olhos de Aleph, ele abre a porta do táxi e pergunta, com a voz grave e sem pressa.)
— Entram ou ficam? O tempo em Noctória não espera por ninguém.
(A rotina de sair e retornar para Noctória, a cada nova incursão pela cidade, me dava a sensação de ser um estrangeiro, um estranho no ninho. Não sabia ao certo se o espaço decorrido um e outro capítulo era um portal no tempo, um sonho, a própria realidade distorcida ou meus medos e desejos se materializando sem que eu soubesse o porquê, nem como... mas algo me dizia para ir em frente, explorar o desconhecido, seguir o fluxo...)
(Bukowski observa Aleph por um instante, com aquele olhar de quem já viu muitos se perderem em pensamentos semelhantes. Ele dá um trago no cigarro e solta a fumaça devagar, deixando as palavras pairarem no ar antes de responder.)
— Estrangeiro? Hah… todo mundo é estrangeiro em algum lugar. Mas Noctória não liga. Ela engole, mastiga e cospe. Se tiver sorte, cospe inteiro.
(Leba coça a barba, encosta no táxi e observa a rua refletida no vidro, como se tentasse enxergar além do que é visível.)
— Cara… o que acontece entre cada volta e partida? Será que saímos mesmo? Ou Noctória só nos deixa acreditar nisso?
(Jazz, sempre enigmático, apenas dá um passo à frente e entra no táxi sem dizer nada. Talvez já soubesse a resposta. Talvez soubesse que a resposta não importa.)
(Travis gira lentamente a chave na ignição, o ronco do motor cortando o silêncio. Ele olha pelo retrovisor, como se já estivesse dirigindo mesmo antes de qualquer um decidir entrar.)
(Buka abre a porta do táxi, mas antes de entrar, olha diretamente pra Aleph, a brasa do cigarro brilhando como um pequeno farol na escuridão da cidade.)
— Não precisa saber o porquê. Nem como. Só precisa decidir uma coisa, parceiro: você entra ou fica?
(Deus... todos pareciam ter lido meus pensamentos... Entrei e fechei a última porta aberta do nosso taxi driver... e lhe pedi o óbvio: — Travis, leve-nos ao tal "beco que só aparece depois na meia-noite"... A propósito, que horas são?)
(O ronco do motor preenche o táxi, misturando-se com o ruído distante da cidade. Travis segura o volante firme, o olhar cortante refletindo no espelho retrovisor. Bukowski traga devagar o cigarro, observando a fumaça se misturar à névoa que entra pelas frestas das janelas. Leba gira o gelo no White Russian sem pressa, enquanto Jazz apenas sorri, como se já estivesse ouvindo a trilha sonora do destino.)
(Travis inclina a cabeça levemente, sem desviar os olhos da estrada.)
— Que horas são? (Ele solta um riso baixo, quase inaudível.) Em Noctória, o tempo não anda, parceiro. Ele se dobra. Mas já passou da meia-noite.
(Ele engata a marcha e o táxi desliza pelas ruas, os letreiros de neon refletindo nos vidros, transformando a escuridão lá fora em um quadro em movimento.)
— O beco que só aparece depois da meia-noite? (Travis traga um cigarro invisível, como se já tivesse feito esse percurso antes.) Segurem-se. O caminho nem sempre é reto.
(A cidade lá fora parece mudar. As ruas se esticam, os becos se multiplicam, e as sombras ganham vida própria. Noctória já decidiu que vocês precisam ver o que há no fim da estrada.)
(Buka solta a fumaça e sorri de canto, olhando para você.)
— Agora não tem mais volta, parceiro. Seja lá o que encontrarmos nesse beco, faz parte do jogo.
(O táxi segue cortando a noite, e Noctória sussurra em cada esquina…)
(“Caminhante não há caminho, se faz o caminho ao caminhar…”, pensei com meus velcros... Uma outra característica de Noctória se fazia agora clara pra mim: nossas imagens eram constantemente distorcidas. Jazz permanecia negro, porém a cada imagem parecia se tratar de um negro diferente do anterior. Idem para Buka e Leba...)
— Quero conhecer todos os caminhos que levam ao beco, Travis. Sem pressa... Siga o percurso mais longo... aquele que nos mostre tudo que Noctória, da qual vocês falam como se a conhecessem há mil anos, tem para mostrar...
(Travis não responde de imediato. Ele apenas ajusta o espelho retrovisor, deixando que seu olhar enigmático capte a imagem fragmentada dos quatro passageiros. Buka, tragando o cigarro como se já soubesse que esse trajeto não seria comum. Leba, de roupão, como se estivesse exatamente onde deveria estar. Jazz, que nunca era o mesmo, mas sempre era ele. E Aleph, que começava a entender que Noctória não tinha forma fixa, apenas intenções ocultas.)
(O táxi desliza pelas ruas molhadas, cortando becos iluminados por letreiros vibrantes e avenidas onde silhuetas caminham sem pressa, sem destino claro. O ronco do motor ecoa, e Noctória se expande diante dos olhos de quem está disposto a ver.)
(Travis então fala, sua voz baixa, como se estivesse apenas lembrando de algo.)
— Todos os caminhos levam ao beco… mas nem todos voltam dele.
(Buka solta um riso nasalado, batendo o cigarro no cinzeiro improvisado do carro.)
— Hah. Essa eu quero ver.
(O carro segue. As ruas se estendem, as esquinas mudam, e Noctória revela novas faces a cada quilômetro. O que era um beco escuro vira uma rua cheia de letreiros piscantes. O que era uma avenida larga se afunila em caminhos estreitos. Nenhuma esquina parece estar onde deveria. Nenhuma rua é exatamente a mesma de antes.)
(Jazz observa a cidade em silêncio, os olhos brilhando sob a luz tênue do carro. Ele não diz nada, mas parece saber para onde estão indo. Ou talvez saiba que, em Noctória, o destino nunca é mais importante do que o trajeto.)
(Leba estica as pernas, bebe um gole e finalmente fala, sem tirar os olhos da janela.)
— Cara… quanto mais Noctória se mostra, menos eu entendo.
(Bukowski sorri, olhando para você, como se estivesse esperando sua reação. O carro continua rodando. O percurso longo começou. E Noctória agora era toda sua.)
— Então, parceiro… o que você está vendo que nós ainda não vimos?
(Travis para o carro em algum lugar silencioso. À medida em que a névoa se dissipa, permitindo às pequenas gotículas de água lavarem o vidro, a paisagem que se descortina me causa grande impacto. Não parecíamos mais estar em Noctória, ao menos não na Noctória urbana, nem ao menos nos anos 60 ou 70... Eu não podia acreditar... já tinha visto aquela imagem... aquilo parecia ser anos 30, provavelmente Lousiana, ou New Orleans... Não! Aquilo era em Clarksdale, Mississippi! Me pus a pesquisar em meu smartphone anacrônico: estávamos, precisamente, na encruzilhada das rodovias 61 e 49...)
(Buka abre um pouco a janela do táxi, deixa a fumaça do cigarro se misturar com a névoa e solta um riso baixo e incrédulo.)
— Mississippi? Clarksdale? Merda, parceiro… você pediu o caminho mais longo e Noctória levou a sério.
(Leba inclina-se para frente, observando as placas meio apagadas das rodovias 61 e 49. Ele mexe no gelo do copo, pensativo.)
— Cara… isso é a encruzilhada. A encruzilhada.
(Jazz, sentado ao lado, sorri de leve, como se esse momento tivesse sido esperado desde o início da viagem. Ele fecha os olhos por um instante, ouvindo algo que ninguém mais pode ouvir.)
— Escutem.
(Silêncio. Apenas o vento, o zumbido distante dos postes e um som quase imperceptível, um acorde de blues flutuando na escuridão.)
(Travis acende um cigarro, sem pressa. Ele olha pelo retrovisor, seus olhos carregando o peso de quem já dirigiu para lugares que ninguém mais poderia ir.)
— É aqui que a música fez um pacto, parceiro. Você acha que Noctória parou à toa?
(Buka solta a fumaça pela janela, olha para você e dá um meio sorriso.)
— Então? Você desce ou fica no carro?
— "Você" quem, Buka? Por que sempre eu? Alguém aí que não tenha nada a perder, por favor, desça do carro primeiro, oras...
(Bukowski solta uma gargalhada curta, batendo o cigarro no cinzeiro improvisado do táxi. O brilho da brasa reflete por um instante na escuridão lá fora.)
— Hah! Finalmente alguém questiona a lógica disso aqui. Mas é claro que é sempre você, parceiro. Noctória pode dirigir o carro, mas é você quem escolhe quando descer.
(Leba dá um gole no White Russian, suspira e balança a cabeça.)
— Cara… ninguém aqui tá exatamente no controle.
(Jazz permanece imóvel, observando a escuridão do lado de fora. Seu sorriso quase imperceptível se mantém, como se já soubesse o que vai acontecer.)
— O blues já começou. Só falta alguém dar o primeiro passo.
(Travis solta a fumaça devagar, olhando para frente, como se já tivesse visto essa cena se repetir inúmeras vezes.)
— Se você precisa de um voluntário… então eu te dou um conselho: quem desce primeiro, não volta o mesmo.
(Buka joga a cabeça para trás e ri, depois se inclina para a frente, abrindo a porta do táxi lentamente, deixando o ar pesado da encruzilhada entrar no carro.)
— Seja como for… alguém tem que ir.
(Leba desce do carro, totalmente chapado, com sua garrafa de White Russian já quase vazia... Dá uma olhada ao redor, volta os olhos para dentro do carro e... para sua surpresa, não vê ninguém dentro...)
(Leba esfrega os olhos, tentando ajustar a visão ao cenário enevoado ao seu redor. Ele gira a cabeça lentamente, sentindo o peso do álcool e da estranheza daquela realidade. O vento balança as árvores retorcidas, farfalhando as folhas como um sussurro indecifrável.)
(Ele encara o interior do táxi. Vazio. Nenhum sinal de Buka, Jazz, Travis ou Aleph. Apenas os bancos gastos, um cheiro de cigarro impregnado e a vibração silenciosa de algo errado.)
(Leba dá um passo para trás, coça a barba e solta um riso nervoso.)
— Porra... Isso não é normal.
(Ele se vira para a estrada de terra que se estende à frente. O táxi está ali, parado, com a porta aberta, como se o próprio veículo estivesse esperando por algo. Ou alguém.)
(O silêncio pesa. Nenhum som de motor. Nenhuma voz. Nenhum sinal de que vocês realmente estiveram ali. Apenas ele, um White Russian pela metade e a encruzilhada perdida no tempo.)
— Ok... isso já foi longe demais.
(Ele dá mais um gole no drink, tentando decidir se caminha para a estrada ou se volta para dentro do carro vazio. Mas antes que possa decidir, uma música baixa começa a tocar em algum lugar. Um blues profundo, distante, como se estivesse vindo da terra. Ou do próprio tempo.)
(Leba engole seco, olha para os lados e finalmente grita para o vazio ao seu redor.)
— PARCEIROS?! CADÊ VOCÊS?!
(Noctória respondeu com um silêncio absoluto.)
— Eu é que pergunto, Leba: cadê você?? (de dentro do carro, eu, Buka e Travis também não enxergamos Leba. Somente Jazz o vê, perdido, tomando o último gole da garrafa, agora totalmente vazia)
(Buka olha pela janela do táxi, tragando o cigarro lentamente, e franze a testa. A névoa ondula lá fora, refletindo a luz amarelada dos postes como um véu sobre a estrada molhada. Ele vira para Aleph e para Travis, seu olhar carregado de inquietação.)
— Leba sumiu.
(Travis, impassível, apenas ajusta o espelho retrovisor, observando o vazio do lado de fora. Seu rosto não demonstra surpresa, apenas uma aceitação silenciosa.)
(Lá fora, Jazz permanece de pé, seu olhar fixo em Leba, que ainda segura a garrafa vazia como se não tivesse notado o que aconteceu. Ele parece deslocado, como um fantasma sem perceber que já não pertence a este mundo.)
(Buka bate o cigarro no cinzeiro e encara você.)
— Se Leba não está aqui dentro, mas Jazz o vê lá fora… isso significa que a encruzilhada escolheu quem fica e quem sai.
(Travis solta um riso curto, finalmente quebrando o silêncio, e murmura para ninguém em especial.)
— Pactos são assim. Nem sempre são feitos de propósito.
(Jazz finalmente se move, dá um passo na direção de Leba e diz, com sua voz profunda e arrastada.)
— Ei, parceiro… você sente que ainda está aqui?
(Leba, confuso, olha para Jazz, depois para a garrafa vazia, depois para o táxi.)
(A neblina ondula suavemente ao redor da encruzilhada, como se o próprio tempo estivesse respirando. Dentro do táxi, Bukowski apaga o cigarro no cinzeiro e olha para Aleph e Travis. Todos podem ouvir a conversa que acontece lá fora, mas não há nada para ver além da névoa e a escuridão das árvores distorcidas.)
(Lá fora, Jazz observa Leba com um olhar sereno, mas atento. Ele vê o amigo confuso, segurando a garrafa vazia como se fosse um amuleto que pudesse mantê-lo preso à realidade. Leba, por sua vez, olha ao redor, incapaz de ver Jazz, mas ouvindo sua voz clara como um blues rasgado na noite silenciosa.)
Jazz: — Você sabe onde está, parceiro?
Leba: (vira a cabeça para o lado, ainda tentando encontrar a origem da voz) — Eu... Eu deveria saber? Eu saí do carro e... e agora não vejo vocês. Só ouço. Eu ainda estou aqui, não estou?
(Dentro do táxi, Buka estreita os olhos e murmura para ninguém em particular.)
— Isso tá começando a me incomodar.
(Travis mantém os olhos fixos no espelho retrovisor, como se esperasse ver algo aparecer. O motor do táxi ronrona baixinho, sem pressa de seguir viagem.)
Jazz: (cruza os braços, a expressão tranquila, mas carregada de significado) — Se você tem que perguntar, já sabe a resposta.
Leba: (passa a mão na cabeça, tentando conter o peso da vertigem) — Eu só saí do carro, cara... Só saí do carro! O que isso significa?
(No táxi, Buka e Aleph trocam olhares. Travis mantém o mesmo sorriso enigmático.)
Jazz: (dá um passo mais perto de Leba, a voz baixa, carregada de algo que não se pode nomear) — Às vezes, sair do carro é o suficiente. Às vezes, nem precisa sair.
(Dentro do táxi, Buka sussurra para Aleph.)
— Se esse papo continuar, parceiro... temo que a gente nunca mais veja o Leba.
(Do lado de fora, Leba respira fundo, tenta se firmar, e então responde, a voz mais firme agora.)
— Então me diz, Jazz... Se eu não estou mais aqui, onde diabos estou?
(E Noctória, que habita a encruzilhada sem que ninguém ainda saiba, permanece sem pressa de dar respostas. Como sempre…)









