Quarto capítulo de Buka & Leba! Decidi por retomar o título original. Afinal de contas, o enredo vazou para fora de Noctória, “a cidade mutante”. Tão mutante que quase englobou a Mississipi dos anos 30 em seus distorcidos domínios… mas aí achei que seria demais. Eu e o GPT, já que esse enredo é composto a quatro mãos… ou serão quatro mil píxels? Péra… bem… mudando de foco, posso dizer que, a cada capítulo, preciso matar uma manada inteira de leões pertencentes a uma certa subespécie chamada… “consistência”. Refiro-me a cenários e personagens, meus leões. Claro que, sendo amador, ocupando apenas 1/2 período do meu tempo com isso e praticamente sem investimento algum, não dá pra esperar muito mais. De qualquer forma, tem sido uma experiência muito interessante criar histórias e ilustrações com o auxílio luxuoso da IA. O ser humano criou ferramentas para lidar com a natureza, e eu diria que elas permanecem tendo exatamente essa função: nos ajudar a sobreviver em meio ao caos no qual fomos jogados pelo acaso, ou por algum Deus aí, ao gosto do freguês. E quando dá pra bater uma bola com a ferramenta, como no caso da IA, que nos oferece amplas margens de protagonismo (ao contrário do que os ludistas ingleses do século XIX e os taxistas brasileiros do século XXI acreditavam/acreditam), então aí é uma maravilha. Por isso cheguei a apelidar (erroneamente) isso aqui de “teatro escrito”. Melhor ficar com a definição inicial: “performance com a IA”. Espero que gostem dos desdobramentos deste 4º capítulo. Abs!
(A névoa parece se adensar ao redor de Leba, como se a encruzilhada estivesse respirando com ele. O silêncio da estrada é absoluto, exceto pelo zumbido dos postes e pelo ranger das árvores secas balançando ao vento. O peso da noite se faz sentir. O tempo ali não segue as regras conhecidas. Lá dentro do táxi, Buka franze a testa. Ele ainda não vê Leba nem Jazz, mas sente que algo está errado, muito errado. O cheiro do ar mudou—agora há um calor leve e incômodo, como se alguém tivesse acendido um fósforo dentro de um quarto sem janelas. Travis continua olhando pelo retrovisor, mas agora há um brilho diferente em seus olhos. Do lado de fora, Leba ainda tenta entender onde está, e por que Jazz parece saber tanto mais do que ele. Jazz, com aquele sorriso tranquilo, de quem já ouviu essa conversa antes, de quem já esteve ali inúmeras vezes. Porque já esteve, sempre esteve. O saxofone distante agora soa lento, arrastado, mais grave do que antes. Como um chamado que só alguns podem escutar. Como um contrato sendo redigido sem papel nem tinta. Leba permanece girando a garrafa vazia na mão, como se precisasse de um último gole para esclarecer as ideias)
— Tá… e se eu não estiver mais aqui… pra onde fui, Jazz?
(Jazz solta um riso curto, ajeita a lapela do paletó e responde com uma calma desconcertante.)
— Digamos que você... chegou ao seu destino, parceiro.
(Dentro do táxi, Buka solta um palavrão, impaciente.)
— Tá demorando demais. Precisamos tirá-lo daí.
(Mas ninguém no táxi se move. E lá fora, Leba engole seco, finalmente começando a entender. O nome "Jazz" nunca foi um nome. Foi sempre um conceito. Uma máscara. Uma... encarnação. Ele olha para Jazz novamente e, dessa vez, algo mudou. O sorriso é o mesmo, mas agora há algo nos olhos dele—algo sem tempo, sem começo, sem fim. O mesmo olhar que Robert Johnson viu naquela noite em 1930, quando lhe ofereceram tudo em troca de uma única coisa. Jazz se inclina levemente para frente, como um anfitrião que recebe um velho amigo à sua mesa.)
— Agora, parceiro... me diga. O que você quer?
(O saxofone geme ao fundo. O vento morno sopra pela estrada. E a encruzilhada aguarda a resposta. 🚖🔥🎷 Jazz permanece imóvel, o mesmo sorriso tranquilo nos lábios. A escuridão da encruzilhada parece girar ao redor deles, como se o próprio espaço estivesse dobrando sob o peso daquele momento. Leba aperta a garrafa vazia nas mãos, olhando para todos os lados, mas só vê Jazz. O táxi está lá, mas os vidros parecem opacos, escuros, como se a realidade tivesse colocado uma barreira entre ele e os que ficaram dentro do carro. Ele engole seco e balbucia algo, sem encontrar palavras concretas. Jazz assente levemente, compreendendo.)
— É confuso, não é? Mas não precisa ser.
(O saxofone distante geme, um acorde arrastado, como se a própria noite estivesse falando através da música.)
— Leba, meu amigo… já parou pra pensar por que Noctória te trouxe até aqui?
(Leba olha para ele, tentando responder, tentando entender.)
— Eu… eu só saí do carro, cara! Eu… eu só queria ver o que tinha lá fora!
(Jazz ri baixinho, sacudindo a cabeça.)
— E foi exatamente assim que começou com Robert Johnson.
(Leba empalidece. O nome ecoa na encruzilhada como um trovão distante. Jazz dá um passo à frente, as sombras da estrada parecem se esticar ao redor de seus pés.)
— A história se repete, Leba. E agora, você tem a chance de fazer a sua escolha.
(A névoa gira ao redor deles, mais espessa, mais quente. O mundo parece suspenso entre um acorde e outro. Jazz inclina a cabeça, e sua voz vem mais baixa, mais firme.)
— Me diga, parceiro… o que você deseja?
(O tempo para. A estrada aguarda. O blues continua a tocar. 🎷🔥🚖 A névoa ao redor de Leba parece vibrar, como se estivesse rindo baixinho junto com Jazz. O vento morno carrega um cheiro de terra molhada, mas também um leve odor de enxofre, ou talvez fosse apenas sugestão da mente de Leba, que agora lutava contra a própria crença no que estava acontecendo. Jazz, impassível, observa Leba como quem lê um livro já escrito. Ele sabe. Ele sempre sabe. Mas deixa o jogo seguir. Leba respira fundo, tentando esconder o nervosismo. A ideia absurda surge. Se tudo não passava de uma pegadinha cósmica, por que não jogar de volta?)
— Tá bom, Jazz… se é assim… eu quero ser o melhor jogador de boliche do mundo.
(A névoa se contrai levemente. O saxofone distante segura um acorde um pouco mais longo do que deveria. Jazz não responde imediatamente. Apenas pisca lentamente, como se saboreasse a resposta. Dentro do táxi, Buka, que ouve tudo sem ver nada, arregala os olhos e solta um riso de incredulidade.)
— O melhor jogador de boliche?! Esse filho da puta tá tentando trollar o demônio?!
(Travis não ri. Apenas mantém os olhos fixos no espelho retrovisor, observando… alguma coisa. Jazz dá um passo para frente, diminuindo ainda mais a distância entre ele e Leba. Seu sorriso agora é outro. Não sarcástico. Não ameaçador. Mas cúmplice.)
— O melhor do mundo? Isso significa que ninguém jamais poderá te vencer?
(Leba sente um arrepio na espinha. Algo na entonação de Jazz torna a coisa real demais. Mas agora não pode voltar atrás. Ele mantém a postura, encolhe os ombros e responde com fingida despreocupação.)
— É isso aí, Jazz. O melhor de todos os tempos. Que Jesus nunca mais me vença numa partida sequer.
(Jazz suspira, olha para a estrada, depois para Leba. Seus olhos brilham, e sua voz sai num tom quase… divertido.)
— Feito.
(A névoa pulsa ao redor deles. Um trovão distante ressoa no horizonte. O saxofone toca um último acorde, definitivo. Dentro do táxi, Buka se endireita no banco, sentindo um arrepio que não tem nada a ver com o frio da noite. Travis, finalmente, sorri pelo espelho retrovisor. E Leba sente… algo. Algo mudando dentro dele. Algo… irreversível.) 🎷🔥🎳
(O táxi ronca alto, rasgando a estrada poeirenta, deixando para trás a encruzilhada envolta em névoa, atravessando a fronteira do tempo que o leva de volta à Nova Iorque dos anos 60, tão conhecida por Travis. Leba respira pesado, no banco de trás, ainda sentindo o resquício daquela presença ao redor dele, como uma sombra que não desaparece totalmente. Buka o encara do banco da frente, tragando seu cigarro como se tentasse digerir tudo. O motorista entreolha Buka, com um sorriso entre calculista e enigmático. Agarro a pergunta que paira no ar, pesada como as árvores retorcidas que ficaram para trás, e a direciono a Leba)
— Ei, Travis… qual a sua relação com Jazz?
(O silêncio dura mais do que deveria. O motor do táxi parece mais alto, como se a estrada estivesse escutando também. Então, finalmente, Travis responde, sem tirar os olhos do caminho à frente.)
— Ah, parceiro… Jazz é só um velho conhecido.
(Buka solta uma risada seca, sem humor, e murmura para si mesmo.)
— Claro que é.
(Leba aperta os punhos no colo, ainda sentindo um formigamento estranho nas mãos. Ele não sabe o que mudou, mas sabe que algo mudou. O saxofone distante parece ter parado, mas o silêncio que ficou no lugar dele é ainda mais pesado. Travis acelera um pouco mais, o velocímetro tremendo como se até ele estivesse inquieto. Ele fala novamente, a voz baixa, sem pressa, como se estivesse compartilhando um segredo que ninguém deveria ouvir.)
— O Jazz, meu amigo… sempre encontra um jeito de viajar.
(Buka bate o cigarro no cinzeiro, observa a estrada escura à frente e olha para mim, como se quisesse garantir que eu também ouvira. E então, ele faz a pergunta que ninguém quer fazer, mas que agora se torna inevitável.)
— E então, Leba… o que diabos você pediu?
(O táxi segue na noite. Noctória ainda está longe. Mas algo… algo está vindo junto com eles… e todos sentem o lapso temporal bater à janela, modificando novamente a paisagem e transportando-os novamente para uma estrada de terra do Mississipi dos anos 30… 🎷🚖🔥 Tão logo avistam um hotel de beira de estrada, decidem pernoitar nele. O saguão do hotel é iluminado por lâmpadas amareladas, lançando sombras alongadas nas paredes descascadas. Um ventilador de teto range preguiçosamente, girando no ritmo de um tempo incerto. O lugar tem cheiro de cigarro barato, madeira velha e café morno que já passou da hora de ser trocado. Travis já se foi, o táxi agora apenas um rastro de poeira na rodovia. Buka estica os ombros, solta um suspiro e olha ao redor. Leba ainda parece nervoso, mas tenta manter a compostura. Eu sinto o peso da viagem em meus ombros, mas a inquietação ainda pulsa no ar. A recepcionista, uma mulher jovem e aparentemente entediada, de pele branca como a neve, observa algo entre as mãos atrás do balcão. Parece não ter pressa, como se o tempo ali corresse em outro ritmo. Buka se aproxima do balcão, bate os dedos na madeira e fala com seu tom característico, meio cansado, meio curioso.)
— Boa noite. Precisamos de três quartos baratos. E, já que estamos aqui… onde exatamente estamos?
(A mulher levanta os olhos, analisa os três por um instante e responde com a voz monótona de quem já viu muita gente estranha passar por ali.)
— Vocês chegaram tarde. Mas estão no lugar certo. Isso aqui é Greenville.
(Buka troca um olhar rápido com você e com Leba. Greenville… ainda Mississippi. Ainda perto demais daquela encruzilhada. Leba pigarreia, ainda segurando o peso da noite no peito, e solta a pergunta que todos querem saber, mas não querem ouvir a resposta.)
— E… que dia é hoje?
(A recepcionista ergue uma sobrancelha, como se achasse a pergunta incomum, mas ainda assim dá de ombros, puxando um calendário de mesa. Ela arrasta o dedo sobre as datas, para e então responde.)
— Hoje? Hoje é 16 de agosto de 1938.
(O silêncio cai como um peso sobre os três. Buka pisca algumas vezes, como se tentasse processar a informação. Leba sente um arrepio subir pela espinha. Você percebe que o ar do saguão ficou ainda mais parado, como se o tempo estivesse prendendo a respiração. Buka, sempre prático, acende um cigarro, solta a fumaça e murmura para ninguém em particular.)
— Então é isso.
(Leba olha para ele, ainda meio perdido.)
— Isso o quê?
(Buka solta um riso curto, mas sem humor. Ele aponta para um jornal sobre o balcão e diz, sem tirar o cigarro da boca.)
— Dá uma olhada na manchete, parceiro.
(Leba se inclina, lê, e sua mão aperta o balcão com força.)
"MORRE ROBERT JOHNSON AOS 27 ANOS, APÓS MISTERIOSA ENFERMIDADE EM GREENVILLE, MISSISSIPPI."
(O ventilador de teto continua rangendo, mas o hotel já não parece o mesmo. Um outro recepcionista que os atende não parece notar o impacto da informação. Lá fora, a estrada segue vazia, como se esperasse o próximo viajante desavisado. Alguém pergunta: isso tudo já aconteceu antes? Ou está acontecendo agora?) 🎷🔥🏨










